Asas da Aflição

Salmo 102.1/12
SENHOR, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor.
Não escondas de mim o teu rosto no dia da minha angústia, inclina para mim os teus ouvidos; no dia em que eu clamar, ouve-me depressa.
Porque os meus dias se consomem como a fumaça, e os meus ossos ardem como lenha.
O meu coração está ferido e seco como a erva, por isso me esqueço de comer o meu pão.
Por causa da voz do meu gemido os meus ossos se apegam à minha pele.
Sou semelhante ao pelicano no deserto; sou como uma coruja nas ruínas.
Vigio, sou como o pardal solitário no telhado.
Os meus inimigos me afrontam todo o dia; os que se enfurecem contra mim têm jurado contra mim.
Pois tenho comido cinza como pão, e misturado com lágrimas a minha bebida,
Por causa da tua ira e da tua indignação, pois tu me levantaste e me arremessaste.
Os meus dias são como a sombra que declina, e como a erva me vou secando.
Mas tu, Senhor, permanecerás para sempre, a tua memória de geração em geração.



Israel estava sendo levada ao cativeiro. Era um cenário de desolação. As pessoas viam sua vida indo embora.
Diariamente lutamos nossas batalhas cotidianas, algumas vezes vencemos, outras não logramos êxito, mas não podemos parar de lutar!
O texto exprime uma dor violenta: Os dias se consomem como fumaça, vão se dissipando até nem mais ser notada; os ossos ardendo como lenha estralando sob o calor do fogo que o consome... o coração ferido e seco como a erva. A dor é tanta que a necessidade primordial, que é alimentar-se ele nem se recorda, e quando o faz, come cinza no lugar de pão e sua bebida misturada com lágrimas. É a exata descrição de quem está sendo consumido por uma tristeza extrema.
Todos nós passamos por lutas, por desafios, e algumas vezes a luta se estende e se intensifica por tempos sem fim...
A dor sempre é mais forte em nós, outro não pode senti-la por você, e você não consegue senti-la pelo outro.
Imagino um homem inocente sendo preso! É um ambiente como esse que se desenvolve o salmo. Nelson Mandela, ficou cativo, encarcerado por 27 anos. Foram quase 3 décadas roubadas de sua vida! Entretanto ele não se deixou destruir, fez da prisão sua casa, e do cárcere escreveu uma história que mudou o mundo em que vivia. O motivo que o levou a prisão, fez dele também o primeiro em seu país.
E nesse contexto de cativeiro, de dor, de desolação e de desesperança, o salmista ilustra sua aflição com a figura de três aves:

1- Pelicano no Deserto
Situação contrária a sua natureza!
O pelicano é uma ave aquática, tem por alimento básico os peixes, e é um exímio pescador. Sua envergadura pode atingir até 2,7 m. É uma ave que necessita viver onde tem água, sendo esse o seu habitat.
O salmista está vivendo um momento contrário a sua natureza. Hoje em dia muitos de nós estão vivendo um período assim. Vivendo dias de dores, vivendo um momento totalmente contrário aquele de sua natureza.
Nós podemos passar pelo deserto, mas não fomos criados pra viver no deserto.
Passar pelo deserto pode trazer benefícios. Israel passou por um longo deserto..., mas foram 400 anos de Egito.
No Egito aprendemos muitas coisas erradas, sentimento de inferioridade, e para tirar essas coisas erradas do povo de Deus, passou 40 anos pisando as areias.
Jesus no deserto foi tentado e venceu as tentações como homem. Venceu no deserto com e pela palavra do Pai. O deserto tem que ser escola, tem que ser preparação para a vitória. Foi assim que agiu Mandela, fez do cativeiro sua universidade, das algemas seu mestrado, e nós devemos também fazer do nosso deserto uma preparação.
O pelicano tem em si a marca das águas... trás em suas narinas o olfato do mar. Temos a vitória na cruz do Senhor. Colosenses 15.57 - “graças a Deus que nos dá a vitória em nosso Senhor Jesus Cristo”. O selo, a marca impressa em nossas mentes tem que ser da vitória de Jesus, Ele venceu no deserto...
As pessoas quando foram espiar a terra prometida voltam dizendo que são como gafanhotos perto deles, pois eles são gigantescos, e contra esses gigantes é que teremos que lutar. O povo fica desesperançado, entretanto Josué que também espiara a terra diz: Se o Senhor se agradar de nós..., como pão os podemos devorar”, Números 14.8 e 9.
Você pode estar se defrontando com um inimigo muito mais forte e hábil que você. Você pode estar se sentindo fraco e inferiorizado. O deserto que terá que caminhar pode te parecer imenso, sem fim... mas lembre-se, nada é grande demais para Deus!
No deserto temos que lembrar os feitos do Senhor, temos que recordar a Sua Palavra.
Salmo 46. 10 e 11 – “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus... o Senhor dos Exércitos está conosco; Deus é o teu refúgio”.
Creia e aguarde, o Senhor está trabalhando, e você pode se alegrar, afinal, Deus é muito bom!

2- Como a Coruja nas Ruínas.
As corujas são aves de rapina, tímidas, solitárias e discretas, animal de hábitos noturnos, excelente caçadora, tem uma visão apurada com pouca luz e uma audição privilegiada, alimenta-se de pequenos animais e insetos, que costuma ingerir inteiro e redeglutir as partes que não aproveita de suas presas, como ossos e penas... costuma viver em buracos cavados por outros animais, quer no solo, como em árvores, e também em cavernas. O macho quando quer acasalar, leva uma presa e oferece a fêmea, que se aceitar, da sinal verde para o acasalamento.
A coruja já é um animal solitário, vivendo em ruínas, torna-se ainda mais solitária.
As ruínas demonstram que naquele local já teve algo. Portanto quer nos simbolizar algo que já viveu seu auge, e hoje está abandonado.
Representa pessoas que vivem remoendo memórias de derrotas e fracassos do passado, acabam se isolando e sentem-se frustradas. Ficam se torturando pelas perdas sofridas, e passam a viver de maneira abatida e sem luz, sem brilho. Escondem-se das pessoas, vivendo em isolamento. Características de alguém que vive deprimido pelas experiências fracassadas de um passado triste.
Todas as pessoas tem ao menos uma história de fracasso em sua vida. Moisés matou um egípicio, e quando foi repreender dois irmãos, indagaram se ele iria os matar também. Ele tinha um homicídio sobre suas costas, e descobriu que não tinha sido um crime perfeito, pois as pessoas sabiam o que tinha feito. Mas não ficou como a coruja nas ruínas, antes se levantou e tornou-se o grande líder que levou o povo de Deus à libertação.
Pedro negou Jesus, e não por uma vez somente, mas três vezes. O número 2 na cultura judaica quer dizer uma ênfase, o número 3 um superlativo. Assim quando Pedro nega Jesus 3 vezes, representa também que foi uma negação superlativa... algo muito acentuado. Seu fracasso não foi obstáculo para ele se tornar um dos principais expoentes da Igreja primitiva, e do cristianismo, operando de forma milagrosa e levando vida a muitos que não tinham.
Hebreus 10.38/39 diz: “Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele. Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que crêem e são salvos.”
Devemos abandonar a ruína e usar a nosso favor as características que temos, a exemplo da coruja, a audição e visão apuradas, para enxergarmos as oportunidades que se escancaram diariamente a nossa frente, sem deixá-las passar por medo de fracassar novamente.
O último capitão brasileiro a levantar uma taça de campeão mundial foi o Cafu. Ele tentou sem sucesso por 11 vezes ser jogador de futebol, e em todas elas ele foi rejeitado, foi desprezado, em todas essas oportunidades colecionou fracassos. Mas não desistiu, abandonou a ruína e lutou novamente, e somente na 12ª vez foi aceito para jogar nas categorias de base de um time da 4ª divisão do estado de São Paulo. E assim começou uma carreira, o caminho de um dos mais vitoriosos jogadores de futebol do mundo.

3- Pardal Solitário sobre o Telhado.
Os pardais são pequenos pássaros de uma família de aves denominadas Passeridae. São aves cosmopolitas, vivem geralmente em bandos, que chegam até a ultrapassar 500 pássaros. Alimenta-se de sementes e pequenos brotos vegetais, e na época da reprodução passam a alimentar-se de pequenos insetos.
Um pardal solitário em cima do telhado representa pessoas que se sentem desprezadas, deixadas de lado, pessoas que se sentem invisíveis.
As vezes estamos no meio de tanta gente e nos sentimos sozinhos.
Assim é o pardal solitário no telhado. Alguém que foi feito pra viver acompanhado, rodeado, em sociedade, mas não consegue se enturmar, está sentindo-se sempre abandonado, sozinho.
Jesus experimentou esse sentimento por você, quando estava levando nossos pecados sobre a cruz, Ele se sentiu desamparado.
Elias após derrotar os 400 profetas de baal, foge para uma caverna e sente-se sozinho e diz à Deus, só restou eu!
Mas o Senhor mostra que ele não está sozinho, que havia mais de 8000 homens para estarem ao lado dele, para fortalecerem-no, para lutar com ele, e pra serem vitoriosos juntos. Deus não te deixa sozinho, ainda que o peso do pecado te faça sentir-se desamparado, Ele permanece ao teu lado, e coloca outros como você.
E sobre o telhado, não encontramos abrigo, e estamos sujeitos as intempéries. Sofre com a chuva, é castigado com o excesso de calor...
O lugar para se estar é na proteção, não no telhado.
O salmo 84 diz que até o pardal encontrou casa... e completa o salmista dizendo eu encontrei teus altares Senhor Rei meu e Deus meu.
Estar diante do altar de Deus é o lugar de nossa proteção, de nosso conforto, lá não estamos sujeitos a ventos e trovoadas.
Davi ainda afirma no Salmo 91.1 e 10: “aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, a sombra do Onipotente descansará... mal nenhum te sucederá, nem praga alguma te atingirá”.
Se você está cansado das intempéries da vida, das tempestades desabando sobre tua cabeça assim como o pardal sobre o telhado, busque abrigo no esconderijo do Altíssimo, se abrigue na sombra do Onipotente... nele você encontrará descanso, e o mal não te alcançará!

E por fim você reconhecerá que Ele permanecerá para sempre, e os Seus feitos de geração em geração. Você O conhecerá melhor, e O adorará!