As Pedras do Caminho

Reta final de eleições no Brasil, e não vou falar desse assunto. Falei mais do que devia de quem não merecia!
Quero falar de coisas que comumente fazemos: puxamos a sardinha pra nossa brasa, ou como preferem alguns, brasa pra nossa sardinha. No fundo, a ordem dos fatores nesse caso, não altera o produto.
Em meio há um denuncismo sem fim nesse segundo turno, fiquei refletindo na forma como nós, mortais, agimos. E pude perceber que não fazemos muito diferente da forma como a campanha eleitoral apresentou.
Fazemos coisas semelhantes aos outros, mas fechamos os olhos para nossos erros, e levantamos sempre os desvios dos nossos opositores para enfraquecê-los.
A isso Deus denomina de hipocrisia!
Sim, somos muito semelhantes, mas não tolero as coisas nele que são parecidas com as que eu faço.
Reclamo da impaciência do trânsito que nem ao menos espera que eu faça a baliza pra estacionar, mas também não paro, ou quando paro reclamo pela demora da baliza alheia.
Triste ver e constatar que eu poderia estar com a pedra na mão para estirpar a mulher adúltera da convivência social.
Sempre queremos agir assim. Olhamos o opositor, o adversário, e esquecemos de nos auto-avaliarmos, de fazermos a autocrítica.
Nem preciso mencionar que não é matando os doentes que acabaremos com a doença no mundo, embora estejamos caçando os “doentes” sempre.
A questão mais ventilada, infelizmente, no segundo turno foi sobre o aborto, e trataram a questão como a do doente que mencionei acima. O adultério desde 1940 constava como crime tipificado pelo código penal. Isso nunca foi elemento coibidor desta prática.
Na lei mosaica era punido com apedrejamento quem adulterasse, prática adotada até hoje em paises mulçumanos, houve uma mobilização internacional para evitar que a iraniana Sakineh fosse executada, e em virtude disso, sua execução foi temporariamente suspensa. Ou seja, nem a possibilidade de apedrejamento inibe que uma pessoa disposta a tal prática a realize.
De igual forma vejo a questão do aborto. As estatísticas demonstram exatamente isso, estima-se que de cada quatro gravidez no país, uma termina em aborto estimulado. Portanto 25% dos casos de gravidez no país acabam em aborto, sendo que a imensa maioria praticados em “clínicas” sem condição mínima de ser aprovada pela vigilância sanitária pra servir como abatedouro de animais.
Portanto, a lei não tem impedido ninguém que queira, praticar o aborto, assim como não impedia de adulterarem.
Temos sido hipócritas, pois condenamos aqueles que erguem as pedras contra nós, mas não nos desarmamos de nossas pedras contra os demais.
No episódio bíblico da mulher adúltera (João 8), Jesus não impede o cumprimento da lei, mas leva seus executores a refletirem sobre sua prática quando diz: “Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
Nós estamos com nossas mochilas, uma carregada de erros, e outra sobrecarregada de pedras para atirarmos em quem não é da gente.
O problema do aborto, do adultério, da união entre homossexuais não está na lei, e nem será por ela resolvido, mas está sim no coração de cada pessoa.
As palavras de Cristo no sermão da montanha (Mateus 5,6 e 7) apontam para uma nova ordem, fazermos as coisas certas de coração, e não simplesmente pela obrigação.
A obrigação tira o prazer até das coisas mais saborosas da vida, não é a toa que quase 30% dos casamentos terminam em separação, pois param de estimular o prazer de duas pessoas que se amam, de estarem juntas, para impor-lhes a obrigação de permanecerem. Até o sexo por obrigação deixa de ser prazeroso.
Jesus sabia bem como utilizar as pedras e nos ensinou que devemos deixá-las no chão se não soubermos dar a destinação certa para as mesmas. E Deus nos deu Michelangelo para entendermos que devemos transformar nossas armas contra outras pessoas em algo que embeleze o mundo, e sirva de marco na transformação de quem com ela encontre.
Vamos transformar nossas pedras em obras de arte, e se não tivermos a capacidade para isso, o melhor a fazermos é largá-las no chão, para servir de matéria prima para quem saiba usar de modo proveitoso.

Roberto 27/10/2010