Dias complicados. A correria toma conta da vida da gente de tal forma que pouco podemos fazer além de nossas atribuições, que por sinal, se a fizermos, teremos feito já muito!
Solicitar que alguém assuma compromissos além da agenda já existente é extremamente difícil. Por isso passamos a delegar atribuições que deveriam ser de competência exclusiva nossa. Nos privamos de pequenas alegrias, que transformam a alma. Mas nos enchemos de presunção que advém de encontros formais ou conquistas a serem ostentadas para os outros, mas que no fundo nos tornam ainda mais vazios de significado, e nos fazer correr mais atrás de novos marcos. A isso o sábio Salomão chamava de vaidade e correr atrás do vento.
Por nos envolvermos tanto nessa busca desenfreada por realizar, passamos a não ter tempo para as coisas simples e saudáveis do dia a dia.
Abrimos mão posteriormente, de assuntos que envolvam qualquer grau de complexidade, mas que esteja à margem de nosso “front de batalha”, de nosso objeto de desejo, de nosso alvo prioritário.
Então tudo o que requer tempo e trabalho, e não está no foco principal, perde um pouco a cor, o glamour, o prazer, e o sabor.
Assim, os relacionamentos que antes eram multicoloridos passam a ser monocromáticos; o que reluzia ante os olhos perdeu o brilho; o que nos atraía deixa de ser imantado.
Passamos a ser obcecados por atingir metas pessoais, profissionais, acadêmicas, etc.
Como um piloto de corrida, prestamos tanta atenção na estrada e nos movimentos dos pilotos concorrentes, que esquecemos de observar que nossa estrada possui paisagens belíssimas a serem contempladas, lugares lindos a serem visitados, e que a linha de chegada permanecerá no mesmo lugar, somente levaremos mais tempo para alcançá-la, mas ao fazer, faremos com a bagagem cheia de vida e de alegria, e não de forma ligeira e vazia. E aqui, nem sempre quem chega primeiro vence!
Seria como saborearmos a mulher que Deus nos deu, extraindo do momento o máximo de prazer, sem pressa, nos encantando com as curvas que ela possui, nos saciando nos beijos, nos deliciando na troca de dar-se e receber-se.
Mas podemos transformar esse prazer na corrida em ter-se uma coleção de relações, sem extrair nada além de um gozo espremido entre outros gozos, os que passaram e os que virão, para que o currículo esteja extenso de pequenos e mal sucedidos momentos de um quase prazer! Mas esse prazer se dissipa rapidamente quando nos vemos frente a um competidor que tem uma ficha maior que a nossa, um currículo mais imponente que o que possuímos.
Um misto de frustração e revolta nos impulsiona a darmos seqüência em nossa tarefa inglória de tentarmos ser nós mesmos os protagonistas de nossas vitórias, sem dividirmos com quem nos é mais próximo a recompensa, e sem reconhecermos o somatório de esforços que levaram a vitória.
Assim, sem ter com quem compartilhar as alegrias das conquistas, estas, se resumem em só conquistas, perdendo o brilho, o colorido, a atração. E como em uma roda gigante, giramos, como o viciado buscamos uma dose maior de nosso próprio vício, sem nos atentarmos que caminhamos a passos largos para a overdose do nosso próprio vazio.
Vejo esse mundo diariamente se descortinando a minha frente, e posso buscar minha dose maior, ou parar a beira da estrada de vez em quando para curtir o prazer de ser e estar aqui. Você também tem essa opção.
Roberto – 19/11/2010